Só se fala de trabalho?
- Hugo Moreira
- 22 de jun.
- 3 min de leitura

No tradicional jantar (mensal) que tem vindo a ganhar o seu espaço na vida de meia dúzia de amigos, deparei-me com uma alteração aos tópicos abordados.
Onde estão os jantares em que os principais temas eram o futebol, os locais para comer melhor e as "conquistas individuais "? Verifico uma tendência cada vez mais acentuada na alteração das conversas, dos debates e do queixume... "cada um com a sua" frase mais parafraseada durante estes últimos jantares.
Um, dono do seu próprio negócio de serviços e venda ao público, com uma dependência absurda da sua presença, do seu trabalho para garantir que tudo sai a tempo e horas e o cliente fica satisfeito. Queixa-se mas não saberá trabalhar de outra forma, "one man show" mas ele gosta, apesar de rezingão. Com o coração na boca, ouvi-lo a falar do seu negócio é absorvente e entusiasmante, mas paga um preço demasiado elevado pela sua obstinação, contudo ninguém o fará mudar.
Outro, um funcionário por conta de outrem, depara-se com a problemática da distância entre a casa e trabalho e que acresce com a responsabilidade de liderar uma equipa e manter o equilíbrio do lar que muitas vezes sai prejudicado e o mais interessante, é ter plena consciência disso. O desgaste emocional consume-o mais do que cada quilómetro que faz de regresso a casa, mas não desiste, resiliência, profissionalismo e as pilhas mais duradouras que conheço.
O funcionário público, este claro está, não faz nenhum... Mentira! Um mega projeto público às costas e um acérrimo defensor da responsabilidade de honrar compromissos e denunciante de atos que fazem jus ao inicio deste parágrafo. Um homem que se sente impotente para contrariar a máquina mas que não desiste... não faz mais do que lhe é exigido, faz mais porque só assim sabe ser profissional.
O doutor! Não de dói dóis mas de paz e justiça, o equilíbrio da balança para além da justiça foi muitas vezes também ela cega. O corpo não podia acompanhar a exigência de lidar com pedaços de vidas, com vidas inteiras e com a responsabilidade de fazer a justiça prevalecer a todo o custo. Generosidade, ambição ou compromisso tudo valores preciosos mas que o levaram ao limite... um aviso que alguém lhe quis dar, cuida dos outros sim, mas primeiro cuida de ti e dos teus.
O empresário, fundador e sócio de uma empresa bem sucedida e que a muito custo se ergueu e prosperou. Perdeu a conta aos anos em que o único dia de descanso foi o domingo, lutou muito pelo sucesso da empresa e com as pessoas certas conseguiu erguer 4 paredes, uma linha de montagem e os passos seguintes são história. A vida também "assim como ao meu anterior amigo", o quis avisar de que não valia tudo se não houvesse tempo para a viver. Hoje profundo defensor do equilíbrio, acredita que nem tudo é trabalho e o valor das amizades é incalculável.
Por fim, eu... na maior parte do tempo calado a ouvir, observar e pensar, vivemos todos em que mundo? Estas pessoas às quais tenho o privilegio de chamar e ser chamado de amigo, estão assoberbadas, esgotadas, infelizes?
"Cada um com a sua" e cada um à sua maneira, vive o presente com o limite das suas forças sem saber o que o futuro nos reserva. Um brinde à amizade, às velhas conversas e deixemo-nos de medir....
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